quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

NADA SE CRIA TUDO SE COPIA

  Em 1997 aconteceu o primeiro Simpósio Internacional da Sociedade de Cirurgia Vídeo-Endoscópica do Rio Grande do Sul (SOCIVERS), atual SOBRACIL-RS. Convidado pela Comissão Científica da Ginecologia esteve presente em Porto Alegre um exótico Cirurgião mexicano, radicado nos EUA de nome pomposo e com inúmeras publicações em revistas de impacto. Ele nos trazia como "novidade", a realização de diversos procedimentos videolaparoscópicos com o uso de um único trocater. Ele utilizava um antigo trocater da Storz com dois canais de trabalho utilizado há muitos anos por ginecologistas para realização de ligaduras tubárias. Colega muito querido e ex-aluno do curso de extensão, o Dr. Ildemar Fischer comentou que também tinha um destes lá na cidade de Agudo no interior do Rio Grande do Sul.
  O Doutor veio com uma mala cheia de vídeos (em fita cassete), além de usar um chapéu de cowboy de gosto duvidoso e trazer uma namorada americana loira de estilo inconfundivelmente brega, de calça branca, apertada e aparentemente muito plastificada. De qualquer maneira, o Doutor fez várias apresentações (sempre ultrapassando o tempo previsto!) e mostrou suas habilidades na realização de procedimentos ao vivo no Hospital Mãe de Deus, realizando uma apendicectomia e uma histerectomia por videolaparoscopia ambas com o uso de um único trocater.
  Sem ainda maiores repercussões no nosso meio, o portal único (ou acesso único) apareceu como grande novidade a partir de 2007 em cima do boom da proposta dos procedimentos por orifícios naturais, incluindo uma discussão anatômico-filosófica/filosófica/lingüística/existencial se o umbigo seria ou não um orifício natural! Melhor estabelecido na videocirurgia urológica, os procedimentos por portal único ou incisão única receberam um pomposo nome (LESS Surgery) e buscam o seu espaço no espectro da cirurgia minimamente invasiva.
  Sobre isto, aparece como destaque do site LAPSURG coordenado pelo Dr. James Skinosky de Curitiba, o trabalho de videocirurgiões indianos (Muthukumaran Rangarajan, Dinakaran Kaarthesan, Ranganathan Kribakaran, Chandrabose Karpagavel, Sivacharan Reddy), intitulado " Transumbilical' Laparoscopic Hysterectomy Using the Ligasure Device: Initial Experience of 25 Cases". De Outubro de 2008 até janeiro de 2009, todas as pacientes que necessitaram de histerectomia laparoscópica com úteros de tamanho pequeno e médio   foram incluídas para submeter-se a esta abordagem. Dos 30 casos, a abordagem transumbilical foi possível em 25, enquanto o resto foram convertidos para histerectomia laparoscópica convencional. Dois trocartes de 10 mm transumbilical foram utilizados, por onde foram introduzidos uma ótica de 10 mm e 30-grau e um instrumento.O "ligasure sealing system " da Covidien foi usado para a maioria da dissecção, incluindo o controle da artéria uterina. A manipulação uterina foi obtida através de um instrumento na vagina. O tempo médio de cirurgia foi de 72.5 minutos com um índice de conversão de 16.6% para laparoscopia convencional. O tempo medio de permanência hospitalar foi de 14 horas. Não houve complicação pós-operatória. Dispareunia foi referida pelas pacientes em 12% dos casos. Os autores concluem que a histerectomia laparoscópica por esta técnica é certamente viável, pelo menos para úteros de tamanho normal ou pequeno. Esta técnica por utilizar instrumentos laparoscópicos convencionais através de uma cicatriz natural é, provavelmente, mais barata e mais prontamente disponíveis do que outros dispositivos especializados de portal único. A perda de triangulação é a maior desvantagem, mas pode ser superada com uma pequena curva de aprendizagem.
  Postado no Youtube, aliás interessante espaço de divulgação científica, no endereço http://www.youtube.com/watch?v=mj59skOCUSc, o trabalho comprova a idéia que na medicina, assim como na vida, nada se cria, tudo se copia e que o mundo realmente dá voltas.
Qual será o próximo revival da cirurgia?

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