domingo, 28 de fevereiro de 2010

Abdome Agudo & Videocirurgia

Contribuição do Dr. Airton Schmitt, Cirurgião da cidade de Sapiranga, RS e aluno do Curso de Extensão em Cirurgia Vídeo-Laparoscópica do Hospital Parque Belém em Porto Alegre, RS


O princípio da utilização da videocirurgia seria o de permitir determinar a extensão e a localização de lesões abdominais, tendo o intuito meramente diagnóstico ou até mesmo terapêutico. A laparoscopia, apesar de ter um baixo índice de complicação, é um procedimento invasivo; e portanto deve ser indicada como um último recurso auxiliar propedêutico, ou seja, nos casos em que os exames clínico, laboratoriais e radiológicos, não forem capazes de determinar o diagnóstico do paciente.
        Normalmente, se realiza com o emprego de anestesia geral, pois determina mais segurança para o cirurgião além de permitir a realização do tratamento cirúrgico definitivo. A laparoscopia diagnóstica pode ser realizada apenas com anestesia local e sedação do paciente. Porém o pneumoperitôneo não deve ultrapassar a pressão de 06 mmhg para que possa ser tolerado pelo paciente e o procedimento deve ter pouco tempo na sua execução.
         Quanto à colocação dos trocartes existe o relato de duas, três e quatro punções, utilizando trocartes de 10, 05 e|ou de 03 mm. Quando se realiza apenas duas punções, a primeira é inserida na cicatriz umbilical para introdução da ótica e a segunda punção é colocada conforme a suspeita da patologia em questão; sendo patologia pélvica no ponto de McBurney e nas patologias do andar superior a punção é epigástrica.
         Outra técnica descrita é a colocação de três trocaters de 10 mm, o primeiro na cicatriz umbilical, o segundo pararretal direita ou esquerda também na altura da cicatriz umbilical, e o terceiro na região supra púbica ou epigástrica. A vantagem dos trocaters serem todos de 10 mm é que permitiriam um rodízio tanto da ótica quanto dos instrumentais durante o ato cirúrgico.
         O exame laparoscópico diagnóstico deve seguir uma rotina para que toda a cavidade peritoneal seja investigada. Inicialmente identificar a presença de líquido intraperitoneal e as condições do peritônio parietal. A seguir examina-se o andar supra mesocólico: lobo direito e esquerdo do fígado, o baço e a loja esplênica, as cúpulas diafragmáticas direita e esquerda, ligamento redondo e falciforme e as paredes anterior do estômago, duodeno e cólon transverso. Na seqüência visualizam-se as goteiras parietocólicas direita e esquerda com especial atenção ao apêndice cecal e ao intestino delgado. Por último visualizam-se as estruturas pélvicas com mobilização adequada do útero em pacientes do sexo feminino. Pode-se determinar a abertura do ligamento gastrocólico e acessar a retrocavidade, para visualizar parede posterior do estômago e o pâncreas. Pode-se proceder a dissecção do cólon direito e esquerdo em suas respectivas goteiras para investigação retroperitoneal.
         Durante a visualização direta da cavidade, a laparoscopia permite um diagnóstico seguro através de sinais diretos ou indiretos de afecções:
  • Sinais inflamatórios: colecistites, apendicites, DIP,
  • Perfurações de vísceras: estômago, duodeno, alças intestinais,
  • Sinais isquêmicos: isquemia e necrose intestinal,
  • Sinais obstrutivos: bridas e aderências,
  • Sinais indiretos de lesão: bile, pus, suco entérico, sangue, urina.
        
         A laparoscopia pode ser empregada na suspeita de qualquer forma de abdômen agudo, inclusive o traumático. A videocirurgia no trauma abdominal vem sendo empregada a partir da década de 1980 de forma lenta e gradual. Tem como finalidade auxiliar no diagnóstico precoce das lesões evitando que o paciente fique em observação clínica com doenças em atividade e ao mesmo tempo diminuindo as incidências de laparotomias brancas. Ela não substitui o exame físico, laboratorial e os exames de imagem, que continuam sendo os métodos fundamentais na avaliação do trauma abdominal. Além de ser diagnóstica, a videocirurgia no trauma pode, em muitas situações, ser terapêutica de forma definitiva.
         Indicações da videolaparoscopia no trauma abdominal contuso:
  • Líquido livre intraperitoneal em paciente hemodinamicamente estável em que a TC de abdômen não demonstra lesão de víscera sólida;
  • Abdômen duvidoso em politraumatizado;
  • Má evolução clínica de paciente submetido a tratamento conservador de traumatismo de víscera sólida.
         Indicações da videolaparoscopia nos ferimentos abdominais penetrantes por arma branca:
  • Penetração peritoneal duvidosa;
  • Transição toracoabdominal;
  • Penetração peritoneal sem indicação óbvia de laparotomia.
         Indicações da videolaparoscopia nos ferimentos abdominais penetrantes por arma de fogo:
  • Trajetória tangencial;
  • Transição toracoabdominal.
         O método laparoscópico apresenta algumas contra-indicações formais de ser realizada no trauma abdominal:
  • Instabilidade hemodinâmica: além da dificuldade natural de controlar grande sangramento, o pneumoperitôneo pode determinar alterações hemodinâmicas e piorar síndrome de baixo débito cardíaco,
  • Distensão abdominal,
  • Gestação no terceiro trimestre,
  • Ferimentos dorsais,
  • Traumatismo cranioencefálico,
  • Doenças cardiorrespiratórias graves.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

NADA SE CRIA TUDO SE COPIA

  Em 1997 aconteceu o primeiro Simpósio Internacional da Sociedade de Cirurgia Vídeo-Endoscópica do Rio Grande do Sul (SOCIVERS), atual SOBRACIL-RS. Convidado pela Comissão Científica da Ginecologia esteve presente em Porto Alegre um exótico Cirurgião mexicano, radicado nos EUA de nome pomposo e com inúmeras publicações em revistas de impacto. Ele nos trazia como "novidade", a realização de diversos procedimentos videolaparoscópicos com o uso de um único trocater. Ele utilizava um antigo trocater da Storz com dois canais de trabalho utilizado há muitos anos por ginecologistas para realização de ligaduras tubárias. Colega muito querido e ex-aluno do curso de extensão, o Dr. Ildemar Fischer comentou que também tinha um destes lá na cidade de Agudo no interior do Rio Grande do Sul.
  O Doutor veio com uma mala cheia de vídeos (em fita cassete), além de usar um chapéu de cowboy de gosto duvidoso e trazer uma namorada americana loira de estilo inconfundivelmente brega, de calça branca, apertada e aparentemente muito plastificada. De qualquer maneira, o Doutor fez várias apresentações (sempre ultrapassando o tempo previsto!) e mostrou suas habilidades na realização de procedimentos ao vivo no Hospital Mãe de Deus, realizando uma apendicectomia e uma histerectomia por videolaparoscopia ambas com o uso de um único trocater.
  Sem ainda maiores repercussões no nosso meio, o portal único (ou acesso único) apareceu como grande novidade a partir de 2007 em cima do boom da proposta dos procedimentos por orifícios naturais, incluindo uma discussão anatômico-filosófica/filosófica/lingüística/existencial se o umbigo seria ou não um orifício natural! Melhor estabelecido na videocirurgia urológica, os procedimentos por portal único ou incisão única receberam um pomposo nome (LESS Surgery) e buscam o seu espaço no espectro da cirurgia minimamente invasiva.
  Sobre isto, aparece como destaque do site LAPSURG coordenado pelo Dr. James Skinosky de Curitiba, o trabalho de videocirurgiões indianos (Muthukumaran Rangarajan, Dinakaran Kaarthesan, Ranganathan Kribakaran, Chandrabose Karpagavel, Sivacharan Reddy), intitulado " Transumbilical' Laparoscopic Hysterectomy Using the Ligasure Device: Initial Experience of 25 Cases". De Outubro de 2008 até janeiro de 2009, todas as pacientes que necessitaram de histerectomia laparoscópica com úteros de tamanho pequeno e médio   foram incluídas para submeter-se a esta abordagem. Dos 30 casos, a abordagem transumbilical foi possível em 25, enquanto o resto foram convertidos para histerectomia laparoscópica convencional. Dois trocartes de 10 mm transumbilical foram utilizados, por onde foram introduzidos uma ótica de 10 mm e 30-grau e um instrumento.O "ligasure sealing system " da Covidien foi usado para a maioria da dissecção, incluindo o controle da artéria uterina. A manipulação uterina foi obtida através de um instrumento na vagina. O tempo médio de cirurgia foi de 72.5 minutos com um índice de conversão de 16.6% para laparoscopia convencional. O tempo medio de permanência hospitalar foi de 14 horas. Não houve complicação pós-operatória. Dispareunia foi referida pelas pacientes em 12% dos casos. Os autores concluem que a histerectomia laparoscópica por esta técnica é certamente viável, pelo menos para úteros de tamanho normal ou pequeno. Esta técnica por utilizar instrumentos laparoscópicos convencionais através de uma cicatriz natural é, provavelmente, mais barata e mais prontamente disponíveis do que outros dispositivos especializados de portal único. A perda de triangulação é a maior desvantagem, mas pode ser superada com uma pequena curva de aprendizagem.
  Postado no Youtube, aliás interessante espaço de divulgação científica, no endereço http://www.youtube.com/watch?v=mj59skOCUSc, o trabalho comprova a idéia que na medicina, assim como na vida, nada se cria, tudo se copia e que o mundo realmente dá voltas.
Qual será o próximo revival da cirurgia?

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Johnson & Johnson inaugura Centro de Treinamento Médico em São Paulo


 Os profissionais de saúde brasileiros e latino-americanos acabam de ganhar um moderno centro de treinamento. O Brasil foi escolhido para sediar o Johnson & Johnson Medical Innovation Institute, única instalação deste tipo para as companhias Johnson & Johnson Medical na América Latina. No mundo, são mais de 20 instituições como essa, em diversas áreas. Trata-se de um dos mais interessante, ousado e importante projeto em ensino em videocirurgia no Brasil.
 Finalmente inaugurado no dia 03 de fevereiro de 2010, o Centro de Treinamento em Videocirurgia comprova o comprometimento da empresa com o avanço contínuo da qualidade da saúde no país.O Dr. Miguel Nácul foi convidado ao evento que contou com mais de uma centena de médicos de todo o país. O Centro conta com estrutura de última geração para diferentes tipos de treinamentos. O Centro é composto de salas muito bem equipadas para videocirurgia experimental, completas, com equipamento e instrumental Storz e Ethicon, além de toda a estrutura de anestesia e fontes de energia. Também tem sala com simuladores de realidade virtual. Ficou acertado com a Johnson que os alunos do Curso de Pós Graduação em Cirurgia minimamente Invasiva do IEP - HMV e do Curso de Extensão terão a oportunidade de trabalhar no Centro de treinamento.
O CETREX de Brasília, DF está divulgando seus projetos de ensino para 2010 que contam com a parceria do Curso de Extensão em Cirurgia Minimanete Invasiva do Hospital Parque Belém e do Pós Graduação em Cirurgia Minimamente Invasiva do IEP-Hospital Moinhos de Vento aqui de Porto Alegre.
Além dos já tradicionais treinamentos - cursos de curta duração de videocirurgia experimental focados em treinamentos de técnicas específicas, estão abertas as inscrições para a segunda turma do Curso de Pós Graduação em Cirurgia Minimamente Invasiva que iniciará em 26 de março de 2010.
Informações & Inscrições

Elziana Leão
Consultora Comercial
elziana.cetrex@gmail.com www.cetrex.com.br
(55-61) 9112-0890 / 3214-0110 / 3214-0100